O luto é uma experiência universal, todos nós lidamos com ele em algum momento de nossas vidas. Mas só porque passamos por isso não significa que seja a mesma experiência para todos. Esta é a razão que torna tão difícil definir e discutir o luto. Nesse sentido, o que é verdade para uma pessoa não será o mesmo para outra, levando a muitos mal-entendidos e mitos sobre o assunto.
Pensando nisso, preparamos uma lista com os principais mitos relacionados ao luto para você compartilhar com sua família e ajudar a quebrar os estereótipos quando se trata desse momento da vida.
Vamos dar uma olhada em alguns desses equívocos comuns? Continue a leitura!
1 – O objetivo é superar a dor e seguir em frente
É um equívoco comum que o luto é parte de um processo e, no final, voltaremos a nos sentir bem. Mas a verdade é que perder quem amamos é uma experiência de mudança de vida.
O luto não é uma doença, como uma gripe ou resfriado, em que o objetivo é voltar a ser “saudável”, mas uma transformação. Dessa forma, é o processo de adaptação a uma grande mudança em nossa vida.
2 – Casar-se de novo, por exemplo, significa que a pessoa não está mais triste
De maneira nenhuma. Como dito anteriormente, o luto é um processo de transformação. Logo, algumas pessoas precisam refazer sua vida para continuar a encontrar sentido nela, porém isso não reflete o apagamento da história compartilhada com quem morreu.
Nesse sentido, cada vínculo é único e singular e encontra o seu próprio lugar de realocação, podendo ser continuado e resinificado sem, no entanto, impedir que novos laços se formem.
3 – O luto ocorre em 5 estágios que devem ser cumpridos à risca
Mito. As reações mais comuns do processo de luto foram estudadas e listadas pela psiquiatra suíça Elizabeth Küler-Ross (1926-2004) em cinco estágios: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Nesse contexto, é verdade que esses estágios emocionais podem estar presentes no processo de luto, mas nem todo mundo vivencia essas etapas de maneira linear.
Uma questão importante é que, de acordo com a American Cancer Society, o luto pode
…parecer mais uma montanha-russa, com altos e baixos que tornam difícil para a pessoa enlutada sentir qualquer progresso em lidar com a perda.
4 – Conversar com quem também enfrentou uma perda é o ideal
Não é bem assim. Quando alguém que conhecemos está sofrendo, tendemos a compartilhar o que nos ajudou durante o processo. Mas o que funciona para algumas pessoas não funciona para outras. Logo, não existe uma maneira certa de sofrer.
Existem maneiras de entender o processo, como por exemplo, terapia, meditação, oração ou por meio da arte e da música.
O que devemos lembrar é que, embora não existam maneiras certas ou erradas de sofrer, há formas saudáveis e não saudáveis de lidar com a situação.
5 – Desfazer dos pertences de quem faleceu é uma maneira de não sentir a dor da saudade
O fato de as roupas não estarem mais no armário, por exemplo, não significa que esses sentimentos serão evitados.
Grandes mudanças como doações ou até trocar de casa logo após a perda podem vir a dificultar o luto, pois isso pode ser encarado como se quem morreu não tivesse nem existido, o que não é verdade. Assim, para vivenciar o luto sem ser de forma complicada, é importante entrar em contato com o sofrimento para, assim, enfrentá-lo.
6 – Você precisa de distrair
Segundo as crenças, a distração nos alivia e nos cura. Mas é mito! Estar ocupados não nos distrai e, menos ainda, cura nossas feridas, porque nossas emoções não podem ser enganadas.
Podemos diminuir nosso luto, mas nunca acabar com ele. Logo, mais cedo ou mais tarde, ele voltará a aparecer com mais força.
Aceite sua dor, deixe-a fluir. Não tente se distrair daquilo que você sente. Aceite, assuma e sinta. Você não pode rejeitar algo que é natural, algo que, irremediavelmente, tem que passar. Mesmo que não queira, mesmo que se rebele, que se negue, a dor continuará presente.
7 – É preciso ser forte nesse momento, certo?
Errado. Até porque o luto não tem nada a ver com fraqueza emocional, além do mais, pedir para alguém que perdeu um ente querido algo como “você precisa ser forte” passa uma mensagem totalmente equivocada. Afinal de contas, toda pessoa é forte dentro de seus próprios limites.
Dessa forma, sofrer e manifestar o sofrimento por uma perda não significa fraqueza. Ninguém tem o direito de impedir uma pessoa de fazer o processo de luto adequado e mascarar sua dor.
8 – O luto dura em média 1 a 2 anos. Depois passa…
Por acaso o luto dura um tempo contabilizado? O luto é pessoal. Isso porque pode durar uma semana para alguns, meses ou anos para outros. Assim, tirar a importância dele, dizendo que em determinado tempo passará, é algo muito cínico de se fazer.
Nós não nos esquecemos de que perdemos alguém. A duração dependerá de nós mesmos e do afeto que temos com esse alguém. Dessa maneira, não superamos o luto quando quisermos, mas sim o superaremos quando estivermos preparados.
9 – O luto afeta apenas o psicológico
O luto é formado pelas emoções internas que experimentamos ao lidar com a perda, mas isso não significa que somos afetados apenas psicologicamente. Além do mais, o luto também causa sintomas físicos, como problemas digestivos, pressão alta, dores de cabeça, fadiga geral, entre outros.
De acordo com a American Heart Association, níveis súbitos e elevados de estresse emocional – assim como a morte de um ente querido – podem causar sintomas semelhantes aos de um ataque cardíaco.
10 – A pessoa precisa voltar às atividades imediatamente
É verdade que a licença para o enlutado é bem reduzida. Mas essa história de quanto mais ocupado melhor não funciona bem, ou pode até acabar mal.
É necessário um tempo para refletir, vivenciar e assimilar a perda e assim processar o que se sente. Além dos fatores burocráticos.
Um retorno rápido ao trabalho ou às atividades podem, certamente, impedir esse contato com o sofrimento e a dor, prejudicando assim, o processo natural do luto.
Como solicitar a licença por luto?
Por todos os exemplos que trouxemos, caso você encontre dificuldades para passar por este momento, vale ressaltar a necessidade de acompanhamento psicológico. Por isso, somente um especialista poderá diagnosticar e conduzir o melhor tratamento.
Como pudemos perceber, existem muitos mitos relacionados ao luto, estes foram apenas alguns exemplos. Por isso, se você conhece algum outro, deixe aqui embaixo nos comentários. Vamos adorar desmistificar outros equívocos.